Helena é um dos romances de Machado de Assis. Foi publicado em 1876.
A história de uma moça que, de uma forma inesperada, sobe na escala social: morre o Conselheiro Vale e, no seu testamento, consta que Helena, moça internada num colégio de Botafogo, é sua filha, cujo segredo o conselheiro o mantivera até a morte. Helena passa a viver com Úrsula, irmã do conselheiro, Estácio, agora meio-irmão, Dr. Camargo, amigo de Vale e médico da família, e Eugênia, filha do Dr. Camargo. Helena em face de seu temperamento expansivo e comunicativo, conquista a afeição de D. Úrsula e de Estácio. Mendonça, amigo de Estácio, apaixona-se pela moça. Helena passa a ser objeto de afeição do próprio irmão, que, no entanto, está noivo de Eugênia. O padre Melchior, guia espiritual da família, suspeita dos freqüentes encontros entre Helena e Salvador. O mistério é esclarecido: Salvador é o pai de Helena, que fora arrebatada pelo conselheiro,- encarregando-se de sua educação. Helena, profundamente chocada com o estado de coisas, mesmo com a possibilidade de poder casar com Estácio, não agüenta a emoção, adoece e morre.
Prólogo
O conselheiro Vale morreu às 7 horas da noite de 25 de abril de 1859. Morreu de
apoplexia fulminante, pouco depois de cochilar a sesta, — segundo costumava dizer, — e
quando se preparava a ir jogar a usual partida de voltarete em casa de um desembargador, seu
amigo. O Dr. Camargo, chamado à pressa, nem chegou a tempo de empregar os recursos da
ciência; o Padre Melchior não pôde dar-lhe as consolações da religião: a morte fora
instantânea.
No dia seguinte fêz-se o enterro, que foi um dos mais concorridos que ainda viram os
moradores do Andaraí. Cerca de duzentas pessoas acompanharam o finado até à morada
última, achando-se representadas entre elas as primeiras classes da sociedade. O conselheiro,
posto não figurasse em nenhum grande cargo do Estado, ocupava elevado lugar na sociedade,
pelas relações adquiridas, cabedais, educação e tradições de família. Seu pai fora magistrado
no tempo colonial, e figura de certa influência na corte do último vice-rei. Pelo lado materno
descendia de uma das mais distintas famílias paulistas. Ele próprio exercera dois empregos,
havendo-se com habilidade e decoro, do que lhe adveio a carta de conselho e a estima dos
homens públicos. Sem embargo do ardor político do tempo, não estava ligado a nenhum dos
dois partidos, conservando em ambos preciosas amizades, que ali se acharam na ocasião de o
dar à sepultura. Tinha, entretanto, tais ou quais idéias políticas, colhidas nas fronteiras conservadoras
e liberais, justamente no ponto em que os dois domínios podem confundir-se. Se
nenhuma saudade partidária lhe deitou a última pá de terra, matrona houve, e não só uma, que
viu ir a enterrar com ele a melhor página da sua mocidade.